#03 | Todo Mundo Odeia As Redes Sociais?
A nova era offline, a volta do analógico e perguntando se esse problema ainda existiria se você aceitasse sua desimportância no mundo.
Se você não vive em uma caverna provavelmente, já deve ter visto que a tendência de 2025 é que o offline é o novo luxo!
A Revista Capricho voltou às bancas em dezembro de 2024 depois de nove anos sem publicação de versões impressas, e pelo menos só no ano passado mais de 70 revistas voltaram para as bancas já mostrando um pequeno traço da nova tendência do ano que nos aguardava ao declarar que folhear revistas (e quase tudo referente ao analógico) se tornou cool, e aparentemente de lá pra cá, o boom da volta do analógico e a rejeição a uma vida cronicamente online vem se tornando cada vez mais o desejo de todos.
Revistas impressas, câmeras digitais, discos de vinil, nostalgia e várias tendências que remetem ao início dos anos 2000 - os últimos anos em que a internet não era nossos únicos passatempos - voltaram a cair no gosto do público, e até mesmo o consumo e criação de blogs, como esse, estão em alta novamente desde que vários vídeos no tiktok viralizaram com listas de “coisas que consumi durante a semana para não derreter o cérebro”, que acabou dando indicações de diversos sites de artigos e blogs de divas.
Tudo que foge da hiperestimulação e retorna a passatempos onde o celular não era de tanto fácil acesso está em alta para ir contra os milhares de vídeos curtos e feeds infinitos com diversos conteúdos que enche nossa cabeça de informações que sequer são armazenadas da forma correta.
Mas será que o mal do século são de fato as redes sociais ou só as pessoas que são insuportáveis?
Aviso: revisando o texto percebi que tava de tpm quando escrevi, então é isso aí.
todo mundo odeia pobre?
Inflação, crise econômica, etc. Em tempos de crise mais do que em qualquer outro tempo, a desigualdade é exposta de maneira a passar despercebida pelos menos atentos, vivemos em um mundo globalizado que para o bem ou para o mal trouxe mais acesso a informação, tendências sobre moda, cultura e arte, coisas que sempre foram de maior acesso apenas para as elites e apesar da falsa sensação de mudança, por trás da grande maioria das tendências que vivemos hoje e da espécie de efeito manada ao de repente uma coisa que estava em alta na semana passada passar a ser odiada na outra, está mais uma vez, a famosa desigualdade social.
Sei que você que se inscreveu nesse blog deve está esperando coisas sobre o cinema mais interessantes do que falar de algo que a grande maioria (pelo menos eu acho) já sabe. Mas aproveitando que agora tenho esse espaço pra falar todas as loucuras que as vozes da minha cabeça me falam, vou aproveitar também pra fazer o que eu faço de melhor que é: reclamar.
Já faz algum tempo que entrei aqui no substack a nova rede social querida de aparentemente, todos os que se rebelaram contra o instagram e demais redes sociais. Sem brincadeira, muitas das notas/posts são quase que 80% tomada de pessoas expondo seu ódio as redes sociais como instagram e tiktok, depois de algum tempo começou a “desaparecer”, acredito que pelo algoritmo embora não saiba como funciona, mas muitos que entraram no substack reclamam sobre as comparações e ansiedades que o consumo excessivo dessas redes podem causar, esquecendo que aqui também não deixa de ser uma rede social.
Não quero dizer que as redes sociais não causem lá os seus malefícios, mas assim, acho que seria de bom tom aceitarmos a nossa desimportância no mundo e vê que nem tudo é sobre ou feito pra gente. Embora agora tenhamos acesso a todos os conteúdos possíveis, a verdade é que nem todos esses conteúdos são pra gente e reclamar e dizer o quanto odeia aquilo não vai mudar, porque existe um público-alvo específico para aquele assunto específico.
Muito se fala dos males da comparação “ah porque blogueira tal é loira padrão e rica”, “ah porque tal fulana já tem casa própria aos 20 e eu sou fracassada”.
Porra gente, vamos colocar a mão na consciência e ver melhor o que a gente consome no dia a dia. Como você não quer se comparar e se sentir um pedaço de cocô sendo que só sabe seguir gente com realidades totalmente diferentes da de vocês, enquanto isso várias criadoras de conteúdo que expoêm realidades parecidas com as nossas (de gente pobre) tem poucos seguidores. Mas você prefere se sentir mal e reclamar de comparação porque só sabe seguir a diva que compra três mansões por mês enquanto você tá no terceiro ônibus do dia pra chegar no trabalho.
E o pior, com as novas tendências que surgem ainda tem muito pobre sem consciencia de classe querendo pagar de rico e criticar coisas que agora o pobre tem acesso a muito custo. Um grande exemplo disso é os milhares de coachs que surgem vez ou outra falando que pra você fazer dinheiro faculdade é dispensável, ninguém precisa mais fazer uma faculdade porque é perca de tempo e todos agora podem ser empreendedores.
Amiga, vamos lá. Se tendo um diploma de nível superior já é difícil arranjar emprego, imagina sem ter um.
Acesso ao ensino superior foi por séculos um privilegio dos ricos, herdeiros, gente com nome grande, gente poderosa, mas de repente justo quando de uns anos pra cá pobre tá tendo acesso para entrar em universidades públicas e particulares ( olha que coincidência ) ter nível superior já não vale mais a pena, “é perca de tempo”. E aí, tenho que lidar com a paciência que não tenho, quando me surge vez ou outra gente pobre lascada, sem um patrimônio acumulado, as vezes até sem uma reserva de emergencia que claramente não entende nada de economia e o básico de história, compartilhando desse mesmo pensamento de coach barato da internet, achando que é só abrir um cnpj de mei e pronto, o milhão vem! Esquecendo que até mesmo pra abrir uma empresa precisa de dinheiro e muito dinheiro. E se você não é herdeiro, provavelmente vai precisar de um empréstimo, que vai ser parcelado de umas 100 vezes, que talvez com sorte você consiga faturar mais do que esse investimento.
Não quero desanimar ninguém e dizer com isso que você por nascer pobre vai ser pelo resto da vida, jamais! Eu mesma quero conquistar muitas coisas, e um dia poder trabalhar pra mim mesma. Só que mais importante do que saber pra onde você quer ir, é também saber de onde você veio.
O fato de ser usado justamente o termo de que offline é agora um luxo, só prova o ponto de que tudo é um grande circo armado pra destacar cada vez mais na sociedade quem pode e quem não pode. Câmeras digitais mais antigas que minha bisavó, que Deus a tenha, por valores absurdos sendo que nem são profissionais. Roupas caraterísticas de periférias sendo ditas como fubangas e toda a ideia de que elegante só existe se você for minimalista e usar old money, sem o principal que é o money.
E isso também não é algo pra colocar ninguém em caixinhas, mas pra evitar falar burrisse por aí embora eu não seja a mãe de ninguém e você faz o que quiser com sua vida. Porém é sempre bom entender que por trás de todas as tendências por mais fúteis que possam parecer tem um reflexo de como a sociedade está caminhando, assim como a hiperfeminilidade por exemplo, foi tendência no ano passado e de repente surgiram dos bueiros milhares de jovens, incluindo muitas mulheres, conservadoras. Que feminilidade é sinônimo de submissão e laçinhos na cabeça.
Não preciso nem comentar sobre esse tópico.
todos estamos iguais ou você só vive em uma bolha?
Uma das muitas pautas que tem sido levantadas em relação aos males das redes sociais e sua influência em nossas vidas é o efeito manada, um fenômeno que se caracteriza por seguir uma opinião ou ação de um grupo específico sem analisar essa ação de forma individual. O famoso maria vai com as outras.
Esse efeito tornou ou pelo menos criou a impressão de que todas as pessoas estão se vestindo ou ficando iguais, a autenticidade morreu e todos só vivemos seguindo e esperando a nova tendência do momento. Todos parecem usar inspirações estéticas do pinterest para se vestir, todos escutam as mesmas músicas de divas pops no spotify e todas as pessoas usam gírias da internet como “diva” e “old que sim” para se comunicar.
O clean girls x messy girls, minimalismo x maximalismo, etc e etc. Todas essas tendências se formos notar vem com um q de riqueza x pobreza, onde um é considerado elegante e o outro brega. E o que é de fato ser elegante ou brega? Se moda é sobre expressão e autenticidade, não deveria caber em caixinhas do que é ou não é mais bonito.
E no entanto, hoje o que de fato fomos nós que pensamos e o que foi pensado apenas por influência dos muitos conteúdos que somos bombardeados na internet constantemente?
A questão é que enquanto essa opinião de que todos parecem ser iguais agora por conta da internet, se esquece que tudo que vemos em nossas próprias redes sociais são enviadas por um algoritmo que entende o que você gosta e manda mais dessas mesmas coisas que você gosta. Tudo que recebemos em nossos celulares na grande maioria das vezes é o que nós demonstramos interesse, e no máximo uns 20% é o que está em alta e acaba sendo enviado pra todos. É algo meio óbvio mas a sensação que tenho é de que se esquece sobre esse algoritmo, e que sem perceber de tanto recerbemos aquilo acabamos saturados com os nossos próprios gostos e aí tudo parece igualmente enlouquecedor, mas basta pararmos de olhar para as nossas telas por alguns minutos ou mais para vermos que na vida real dificilmente vamos nos deparar com essa similaridade enlouquecedora.
Eu como pessoa cronicamente online, algo que não me orgulho, comecei a ser bombardeada por essa nova tendencia do ódio as redes sociais e todas as suas problemáticas. Concordando com algumas coisas e ficando em dúvida sobre outras decidi tirar um dia para não mexer no celular ou ouvir música durante a minha viagem de casa para o estágio que demora um total de uma hora e quarenta, até duas horas dependendo do trânsito.
Em um ônibus lotado, não vi ninguém parecida comigo ou pelo menos iguais as da internet, todos se vestiam diferente e tinham trejeitos diferentes embora a grande maioria estivesse no celular, até mesmo olhando por alguns segundo o tiktok ou feed do instagram de pessoas aleatórias consegui não identificar nenhum dos conteúdos consumidos por eles. Feeds completamente diferentes do que eu consumo. Um homem via um compilado de vídeos de um rapaz que falava sobre lendas japonesas ou algo do tipo, uma mulher via storys de alguma influencer que fala sobre maquiagem (sei porque ambos tinham legendas), algo diferente embora no mesmo lugar que é a internet.
Acredito que nos acostumamos com nossas bolhas pessoais de nichos da internet, e acabamos acreditando e as vezes considerando que tudo é sobre ou feito para nós até mesmo na vida real. Sem pararmos pra pensar ou ter outras perspectivas. Acho que pelo menos uma das boas tendências que surgiram foi a volta dos blogs, ao menos no meu nicho e espero que chegue em outros, porque a leitura e a escrita causa ótimos benefícios ao nosso cérebro, não pra ser melhor do que ninguem mas pra poder conhecer o que é nosso e o que foi influenciado por outras pessoas, e assim o risco de ficarmos todos iguais se torna menor.
conclusão?
Acho que não tem nada de mal em querer ter likes e engajamento, afinal no fundo todos nós só queremos reconhecimento do nosso trabalho, e hoje querendo ou não a forma mais “fácil” de ser reconhecido é através das redes sociais.
Quase em todo lugar ouvimos/lemos que para ter os tão desejados likes é preciso constância, mas muitas vezes desanimamos logo no início por não ter o alcance viral logo de cara. Eu mesma já tive alguns perfis na humilde tentativa de criar conteúdo mas acabava ficando desmotivada ou desistia no meio do caminho, porque passamos a medir o valor do nosso trabalho pelo quanto de curtidas ele recebe.
Acho que temos que usar a internet ao nosso favor, pesquisar coisas e seguir pessoas que nos incentivam a ser mais e não que nos desanime e gere comparações. Comecei a a fazer isso ano passado e toda diva ou divo que me cause sentimentos de comparação ou até mesmo não agregue em nada pra mim, dou unfollow imediatamente, isso além de ajudar a focar mais em de fato inspirações seja para criar conteúdo ou qualquer outra coisa que você tenha vontade de fazer, também poupa sua saúde mental pra ser menos amargurado e mais de boa com a vida.
Indicações da semana:
As notas finais de hoje vão ser diferentes e vou indicar criadoras de conteúdo gente como a gente, que incentivam nós divas e divos a sermos melhores sem se comparar nem nada pois também tão construindo suas coisas do zero, segue a lista:
Luiza Alencar, uma diva publicitária que dá dicas sobre carreira, estudos e finanças para quem não nasceu em berço de ouro e precisa aprender a ser desenrolada pra vencer na vida.
Gabbie Fadel, embora não acompanhe muito a diva no instagram, adoro os conteúdos dela no youtube ela fala sobre diversos casos bizarros e tem quadro onde ela trás todas as notícias do Brasil e do mundo, tudo isso de um jeito engraçado e super carismática, deixa a gente informada e tudo isso de forma descontraída acho essencial.
Sofia Belle, aos escritores de plantão a diva dá várias dicas dicas sobre escrita e literatura, além de também ser escritora e ter diversas histórias incríveis cheia de referências que ela comenta sobre nos posts.
Aline Maia, muitos podem discordar mas desde que comecei a lidar com a vida como um personagem de uma série tal qual a diva, não fiquei mais estressada como antes porque considero tudo um plot ou entretenimento para os fâs da minha série que inclusive se chama bem-sucedida, irônico e engraçadinho porque mostra os causos de alguém que não é mas o plot final é que eu serei, pois fazemos nossos roteiros também. Um beijo a todos!
Me identifiquei muito com seu texto. Nesse momento estou tirando um tempo offline das redes sociais, e só ficando aqui no Substack, não tinha reparado que fui influenciada pelos posts daqui. Sinceramente não usava muito o Instagram, mas sinto falta do tiktok. Porém acho que esse tempo está sendo válido para mim, gastei meu tempo com outras atitudes e gostei muito, no fim é como você disse, o problema não são as redes sociais e sim, como a gente usa elas!